Viva! Um novo ano por estrear!
Até parece que estamos no futuro, cada um agarrado ao seu dispositivo inteligente! Ou será que estamos no passado, com o mundo entregue a figuras bacocas e míopes (uma vez mais ou em contínuo?). De qualquer forma, iniciemos o ano por viagens no tempo!
Para explorar paradoxos e cenários (mais ou menos) verosímeis, proponho os filmes “Primer” e “Coherence”.
“Primer” é um filme independente e de estilo artesanal, sobre uma pseudo start-up que descobre acidentalmente como viajar no tempo, numa intricada experiência laboratorial. A história prende-se então em lutas de doppelgangers em curtos recuos temporais que vos vai levar a andar a desatar nós da cabeça durante muito tempo.
“Coherence” inicia-se num cenário tão prosaico como um jantar de amigos. Este convívio é então perturbado por uma distorção espaço-tempo, que revela conflitos latentes e personalidades ocultas, culminando numa teia de prolepses e analepses muito intrigante de seguir. Para descodificar todos os mistérios do filme terão eventualmente de o ver de novo.
Rumando para paragens mais musicais, fica a sugestão de uma banda : “King Gizzard and the Lizard Wizard”. Desafio-vos a tentar colar uma etiqueta a este grupo australiano! Numa esquizofrénica perfusão de estilos, numa luta engalfinhada de passado e futuro, misturando sons antigos de jazz, folk e rock psicadélico com a inovação eléctrica de múltiplas guitarras e efeitos, despacham músicas (e álbuns) tão amigas do mosh como da contemplação. E isto tudo sem falar nas letras das músicas… Embalem no ritmo frenético de Nonagon Infinity ou no cálido Paper Mâché Dream Ballon; serão da mesma banda?
Fica também uma negra balada dos Queens of the Stone Age: Suture Up Your Future, do álbum Era Vulgaris. Só para inspirar a luta por um futuro melhor neste ano que estamos a abrir.
Por fim, caso tenham saudades (naturais ou artificiais) dos anos 80, recomendo uma visita de estudo ao bingo do Estrela da Amadora! Tudo o que está envolvido na experiência nos leva até lá. Tens de esperar para entrar, monitorizando os números de um velho ecrã, como se estivesses a ser teletransportado para outra realidade. Ao abrir a porta, és bafejado por uma nuvem negra de tabaco. Quando conseguires abrir os olhos, detectas algumas personagens que pararam no tempo, observas os empregados a circular e escolhes uma mesa. Tudo o resto é jogo e gritar “Bingo!” quando fizeres o cartão. Se fores atento, ainda verificas o velho hardware que por lá ficou dos verdadeiros anos 80, ou aqueles óculos que ainda vivem por cima de um bigode Freddie Mercury.
Caso não gostem de reviver o passado ou projetar o futuro, vivam o presente e logo se vê o que vai acontecer!
Rafael Nascimento