«Maria toma cuidado
vê como pisas o chão,
se dás um passo mal dado
pisas o meu coração. » (Isidoro Manuel Pires, poeta tavirense)
Em terra de Gilão, dificilmente se dá um passo mal dado. A terra que já foi romana, moura e cristã, hoje é dos milhares de turistas nacionais e estrangeiros que se perdem de amores por ela. E é, será sempre, sobretudo, das gentes que a compõem num matiz de tradições, sabedoria e grande paixão telúrica.
A História de Santa Luzia não cabe na mais minguada das freguesias tavirenses, transbordando por todo o concelho e cativando a memória e os sentidos dos que referenciam aquele lugar de entre muitos outros que conheçam. Terra de rio e de mar, filha de pescadores, tem longa e fulcral tradição na pesca e copejo do atum, mas é também a orgulhosa (e meritória!) capital do polvo.
Há noventa anos que alcatruzes e covos trazem à prova os oito tentáculos que as dezenas de receitas locais reinventam com a mesma mestria de quem os pesca. Enquanto os barcos baloiçam gozando a folga da faina, a fila para a Casa do Polvo Tasquinha desagua rua fora numa romaria já bem conhecida da equipa. E se a casa tem a fama, o cliente tem o proveito.
Começámos com o delicioso rissol de polvo e a patanisca do dito, farta no recheio e equilibrada nas ervas aromáticas, pecando apenas no ponto de sal. O vinho branco recomendado pela gerente, uma colheita de 2016 da Quinta de São Sebastião, em Arruda dos Vinhos, não desapontou na frescura e acidez, revelando-se suave mas intenso q.b. para acompanhar o polvo. Os néctares são suficientemente variados mas ligeiramente inflacionados, tendo esta sido uma escolha acertada também no custo- qualidade.
Entre o garfo e a faca a escolha é vasta e denunciadora de um visceral apreço pela mais famosa iguaria daquele lugar pacato à beira-ria: ele há polvo frito, polvo à casa (uma receita de polvo «à alentejana», com amêijoas e batata), polvo à moda da terra (cozido com legumes), carpaccio de polvo, polvo panado, espetadas de polvo, hambúrguer de polvo…ele há de tudo. Nós, depois de séria ponderação e alguns esclarecimentos da casa, arriscámos no polvo grelhado com batata doce (estilo lagareiro) e no arroz do mesmo. As imagens podem falar por si, mas só nos fica bem, em abono da verdade, dizer da qualidade de ambos os pratos e do sabor caseiro e fresco que nos deixaram na boca.
Empanturrados até aos tentáculos, não resistimos a descobrir uma das sobremesas caseiras, a baba de camelo com pedacinhos de amêndoa. Autêntica, consistente, muito agradável.
Em suma, e apesar da espera e de algum desinteresse da equipa, encontrámos em Santa Luzia uma Casa de conforto, uma Tasquinha polvilhada de sabores e um Polvo que não se prova amiúde. Há por isso bem mais do que oito razões para visitar esta varanda da Formosa.
Tempo de Espera (sem reserva): aprox. 30 minutos
Preço médio por pessoa 20-30 euros
Noites de Fado semanais com menus definidos
Dia de Fecho: Terça-feira
Morada: Av. Eng.º Duarte Pacheco 8, 8800-545 Santa Luzia
Contacto: 281 328 527
Maria João Barbedo e Roberto Leandro
