Recuemos um século, cruzemos trincheiras de baionetas bem levantadas, neste segundo Transverso vamos visitar a terra de ninguém nos campos da Flandres no início do século XX.
A I Guerra Mundial, ou simplesmente a Grande Guerra, deflagrou por terra, céu e água de 1914 a 1918. Deixou marcas por toda a Europa, uma ferida profunda no seu centro, milhões de mortos e o fim de uma época de ouro. Hoje é recordada em velhos monumentos aos soldados e de vez em quando surge em algumas séries, filmes e livros. Por ser mais distante no tempo e menos relevante que a sua filha, a II Guerra Mundial, não nos recordamos tanto dela. O Transverso desafia-vos a visitar alguns lembretes que se produziram, que ilustram a riqueza universal deste período histórico.
Comecemos com dois podcasts.
O primeiro foi feito em Portugal, pela Antena1, intitulado “100 mil portugueses na Primeira Guerra”. Os vários convidados exploram a presença portuguesa dividida pelos teatros de guerra europeu e africano, contando histórias de prisioneiros, doenças e provações. Adoçando a narrativa, ouvem-se canções de época sobre o fado daquelas gentes que tanto sofreu. Um programa que vale sem dúvida escutar e aprender um pouco mais sobre o esforço que foi (tentar) ombrear com colossos militares mundiais.
O segundo podcast é-nos narrado por Dan Carlin, no seu programa Hardcore History, na série Blueprint for Armageddon. Para quem se entende com inglês e adora pormenores históricos, esta série de 5 episódios é imperdível. Qual verdadeiro bardo, Dan encanta-nos com o seu tom grave. Esculpindo a saga do cenário europeu, transporta-nos para o medo de uma trincheira dos dois lados beligerantes, sem apologias ou poupanças de fôlego. Um genuíno tour-de-force e recompensador para o ouvinte.
Para viver a guerra mais de perto, destaco dois passeios em dois museus militares. No Museu Militar de Lisboa encontra-se uma maquete de uma trincheira portuguesa, mas destacam-se as jóias da coroa, as pinturas de Sousa Lopes, as maiores do mundo sobre a Grande Guerra!
Caso dêem um salto por Londres, não percam o Imperial War Museum e a sua terrífica trincheira. O visitante pode percorrer esta representação em tamanho real, sentido os sons (e cheiros) deste antro tétrico de ratos e cadáveres.
Para final, desanuviando deste peso histórico, que tal beber uma caneca de café de lama, adoçado a caspa de magala? Recordemos o lado cómico da guerra com Blackadder do “Mr. Bean” Rowan Atkinson e companhia, que cruzam tão bem ironias com fatalidades.
Rafael Nascimento