É Halloween! Estás farto que te sugiram Stranger Things? Tens dois palmos de testa e não te apetece pagar 5 euros para ver The Jigsaw? Lê então a minha SUGESTÃO DE TERROR: The Witch.
No século 17, uma família puritana é expulsa de um povoado na Nova Inglaterra por uma discrepância na interpretação do Novo Testamento. Fixando-se nos arredores de uma floresta, a tensão acumula-se: por motivos sobrenaturais, mas não só...
Sou admitidamente um apologista de que filmes de terror não devem simplesmente ser um somatório de silêncios seguidos de guinchos muito altos, combinados com meia dúzia de imagens creepys. Não há muitos filmes do género que possa colocar nos meus favoritos: mas este é um deles.
Em The Witch, o terror advém, não apenas de imagens grotescas, mas sobretudo de tensões geradas pelo conflito humano. Robert Eggers realiza aqui a sua primeira (!!) longa-metragem, tendo vencido inúmeros prémios, com destaque para o de Melhor Realização no festival de Sundance. O seu completo entendimento deste tipo de terror, a abordagem artística mas negra à fotografia, o uso de som sublime, os inúmeros temas explorados na narrativa e o final, em tudo, arrepiante, deixa-me sempre com muito em que pensar.
Não esperes encontrar grandes estrelas no elenco: as atrizes mais conhecidas são Anya Taylor-Joy (cujo atual reconhecimento deve ao seu trabalho neste filme) e Kate Dickie (atriz escocesa, que conta com pequenas participações em Prometheus e Game of Thrones). Aqui estão todos em pé de igualdade, as grandes estrelas não vão sobreviver até ao fim enquanto o resto é mutilado: em The Witch o sangue é pouco e nada gratuito.
Terror não é um “susto”: é ficares, muito depois dos créditos, a pensar. A pensar que talvez o ser humano possa, credivelmente, ser mau por natureza. A pensar como em determinadas condições, todos nós poderíamos sucumbir ao que mais desprezamos. O sobrenatural tem aqui um papel secundário: é o catalisador, mas tudo o resto são os seres humanos que provocam. O mundo real é exactamente assim: e isso é o mais assustador.
Diogo Simão
