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A bom cavalo não falta sela

A noite não ia longa mas nem o quente verão tardio fazia assomar mais pessoas à rua. O centro de uma das localidades algarvias mais reconhecidas registava um tráfego populacional idêntico ao do Saara no inverno. Não obstante, estávamos determinados a encontrar A Charrete e a passear pela sua tradicional ementa.


Os clientes dispersavam-se entre duas salas plenas de decoração retro onde os tons quentes e as madeiras sobressaíam. Ficámos na primeira, bem perto de uma garrafeira invejável ladeada por muita loiça do tempo das nossas avós.



Já de carta na mão, o difícil era escolher apenas um prato. Seguiram-se afáveis esclarecimentos sobre os termos regionais e as decisões: Couves à Monchique para ele, Espetada de tamboril e gambas para ela. Barranco Longo Viognier foi o branco algarvio sugerido para acompanhar os pratos (e será assim quase sempre – culpa dela que não gosta de tintos).


Não tardou muito até nos servirem – nota muito positiva para o serviço que foi rápido e eficaz. As doses, ainda que generosas, não aguentaram tempo suficiente para a fotografia (pedimos desculpa pelo sucedido), mas garantimos que o aspeto fazia jus ao sabor. As couves são servidas com os enchidos regionais (uma espécie de cozido à portuguesa cá do sítio), bem diferentes daqueles a que o nosso paladar está habituado (a farinheira, por exemplo, não é igual à que se produz a Norte: o seu diâmetro é maior e tem um sabor bem mais forte). E que incríveis estavam! A Espetada, apesar de ser um prato mais comum, não desiludiu – especialmente no generoso tamanho dos camarões. A faltar alguma coisa, só as couves do prato em frente, que estavam realmente divinais e que, acreditamos, poderiam acompanhar qualquer prato que saísse daquela cozinha.



Houve ainda, claro, espaço para a sobremesa. O tradicional voltou a ditar a sentença: pudim de mel e doce algarvio. Excelentes. Mas se tivéssemos de votar, invocando as diferentes texturas e as proporções ideais que cada elemento (figo, amêndoa e alfarroba) assumiu nesta proeza gastronómica escolheríamos, por unanimidade, o doce algarvio.


Durante o tempo em que ali estivemos, vimos ainda nascer a recriação de um rótulo de vinho tinto Remexido, grande produção algarvia, pintada a olho nu pela caneta de um turista que viajava sozinho; e ficámos a saber mais sobre os hobbies dos empregados d’A Charrete (incluindo a paixão do Sr. José Carlos Lopes pela fotografia de aves incríveis que habitam a nossa serra) e as opiniões formadas sobre o que funciona bem e mal em Monchique.


A simpatia dos empregados, que foi sendo conquistada ao longo do jantar, valeu-nos a oferta do medronho e da melosa. E acreditem: não sobrou espaço para mais nada. A não ser para lá voltar quando as saudades por este genuíno recanto apertarem.



Restaurante A Charrete

R. do Dr. Samora Gil, 30

8550 Monchique

12h00 – 23h00 (encerra à quarta-feira)

Maria João Barbedo e Roberto Leandro

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