Vi A Ghost Story. O mais recente trabalho do realizador David Lowery é encabeçado por dois dos melhores e mais interessantes atores do sistema de Hollywood: Casey Affleck e Rooney Mara.
O filme é ridiculamente simples na prática, mas muito profundo no que toca à sua mensagem. Mas eu, de forma algo pretensiosa, tomei-o como bastante aborrecido, atribuindo-lhe pouco crédito durante toda a sua duração. Mas, tal como a personagem principal, a história não me deixou. Ficou por ali... A assombrar-me.
E é disto que o cinema, muitas vezes, é feito: momentos, ideias, sons e/ou imagens que te assombram. Não consegues escapar ao que o filme te fez sentir: creio que já todos o sentimos.
Esta não foi a única estreia de 2017 que me colocou neste estado. Moonlight, vencedor do Prémio da Academia para Melhor Filme, não me convenceu. Sim, tem um estilo e ambiência própria, toca em vários tabús de forma interessante, os atores são excelentes... E...? Não me prendeu nem surpreendeu. Talvez por ter sido vítima do hype desmesurado que o rodeava nessa altura, acabei por ver as minhas esperanças por algo mais parecido com uma versão hardcore e realista de Do the Right Thing de Spike Lee, completamente frustradas.
Mas certos filmes embrenham-se como um vírus na nossa corrente sanguínea... E cá está Moonlight, 9 meses depois, qual recém-nascido a pedir oxigénio, a exigir-me ser visto novamente com outros olhos. E assim o farei... Não só para ver o que não vi e sentir o que não senti, mas, sobretudo, para ir até onde antes não estava disposto.
E porquê? Por ter tido exemplos como There Will Be Blood (que vi pela primeira vez com 13 anos, sem maturidade para compreender o poder de Daniel Day-Lewis e a mestria de P. T. Anderson), Cidade de Deus (que sempre gostei, mas só recentemente fui capaz de apreciar as suas diferentes facetas e qualidade técnica soberba) e, principalmente, Fight Club.
Quando vi pela primeira vez o meu filme favorito, não gostei. Achei-o demasiado “full of himself”, demasiado psicótico e com um twist idiótico. Mas esse mesmo twist tinha-me deixado tão confuso que fui imediatamente revê-lo... E quando comecei a somar as peças tudo fez sentido: até as filosofias nele pregadas.
Isto para dizer que irei tirar um dia ou dois para rever as películas que assim o exigem, antes de finalizar o meu top de melhores do ano. A Ghost Story e Moonlight lá me esperam. E vocês? Que filmes vos assombram de tal modo que terão de o rever?
Diogo Simão