Camões escreveu que amor é fogo que arde sem se ver, e é esse fogo, ou melhor, esses fogos, que guiam a narrativa que nos apresenta Maria Antonieta Costa, neste romance sobre a vida do inigualável poeta.
A epopeia começa em Coimbra onde um jovem Luís Vaz de Camões vive com o tio, um importante eclesiástico, que quer fazer do sobrinho seu herdeiro nas artes da retórica e da teologia. Camões, no entanto, não podia estar mais longe de um sacerdote, preferindo versejar ao engate, arte em que por demais se destacava.
Homem de grandes paixões vivendo numa época e lugar onde a ortodoxia religiosa e a forte estratificação social davam pouco espaço ou aceitação para os sentimentos, Camões espacializou-se em arranjar problemas e, em breve, era enviado para Lisboa para fugir ao cárcere. Na capital faz o seu caminho até à corte do rei D. João III e vive amores impossíveis que o levam ao céu e o arrastam para o inferno.
Acaba por se alistar como soldado em Ceuta, onde luta pela manutenção das praças portuguesas no Norte de África e onde perde um olho, e mais um amor, na acirrada contenda. Regressa, pois, a Lisboa, onde a sua voz anti-regime e anti-inquisição lhe vale o exílio em Goa e, mais tarde, em Macau, onde escreve o épico “Os Lusíadas”, entre lutas contra os infiéis, boémia, um mundo novo, as catacumbas e muita, muita poesia.
Regressa a Portugal, pobre e gasto pela sua vida desregrada, mas ganhou na metrópole um estatuto quase lendário, que lhe permite granjear um mecenas que lhe financie a publicação da sua epopeia, poucos anos antes de morrer, enfermo.
A Epopeia do Eterno Navegador não é uma obra-prima, a escrita não é formidável, mas Camões é um personagem por demais interessante e autora constrói um romance (ou vários), de boa leitura, com profundidade histórica e algum relevo literário.
Uma interessante viagem ao séc. XVI, à vida, obra e aos eternos fogos que arderam e imortalizaram Luís Vaz de Camões.
Classificação:
Nuno Soares