Nada precede o Crepúsculo...
Só o silêncio é maduro.
A vida não mexe um músculo.
A noite esconde o futuro.
Todo o ser vivo dormita
excepto os esquecidos por Deus
que na sua forma maldita
rastejam pelas ruas, no breu.
O vazio esperta os sentidos
que o negro manto entorpece
e tirando alguns homens perdidos
toda a cidade adormece.
As formas revestem mistérios
que o olho indiscreto não capta,
segredam no escuro impropérios
de gente que às cegas se adapta.
Pairam p'lo ar misticismos
das almas que a terra escondeu
nos buracos quentes e abismos,
e sabe-se aí que anoiteceu.
O frio sopra a todos os cantos
penetra como um parafuso
e espalha a frescura dos prantos
por todo o objecto sem uso.
Esganiçam as aves, estridentes
o prenúncio da próxima aurora
Despedem-se as estrelas cadentes,
a lua apaga-se: agora.
A terra renasce aos pedaços
Constrói vagarosa uma pose
esperneia, atira e colhe os braços
absorve da noite a osmose.
Despindo à passagem o mundo,
deixa que a vida se assuma
e vai-se do negro mais fundo
à frágil cortina da bruma.
Reentra a manhã com a cor:
o ar leva sons e olfactos
o sol liga o seu esquentador;
começa a corrida dos fatos...
Roberto Leandro
P.S: O Mês da Poesia é um desafio interactivo promovido pelo Opina com o objectivo de dar espaço aos nossos leitores para partilharem os seus escritos poéticos. O Mês da Poesia será realizado regularmente de 2 em 2 meses subordinado a uma temática apresentada durante o mês anterior. O tema do mês de Agosto é: AMANHECER. Enviem-nos os vossos poemas por mensagem privada na página de Facebook do Opina ou por comentário aqui no blog. No caso de haver uma enxurrada de poemas, faremos uma pré-selecção e os poemas seleccionados serão publicados, como de costume, aos Domingos. Boas leituras!