Se vos disser que os meus filmes favoritos são Fight Club de David Fincher e A Clockwork Orange de Stanley Kubrick… Se vos disser que Nirvana estará sempre no meu top 5 de bandas favoritas… Se vocês soubessem como eu adoro a contra-cultura…
A rebelião contra um sistema datado, a possibilidade de alterar o pré-estabelecido… Gosto de questionar. Que outra forma existe para melhorar? É uma maneira de pensar “adolescente”, mas se a única outra opção é ficar calado e aceitar um mundo em constante apodrecimento…
“De que lado é que tu vais estar?”
Este é o chavão de propaganda de um muito subvalorizado filme desta corrente de pensamento. O seu realizador, o anarquista Lindsay Anderson, filma-o nas sombras e átrios góticos da sua juventude: o colégio de Cheltenham. Instiga o argumentista, David Sherwin, a seguir pelos becos sombrios construídos por Jean Vigo na média-metragem Zéro de conduite: os filmes são, admitidamente, primos com 30 anos de diferença. Introduz ainda, ao grande ecrã, um dos seus mais carismáticos olhos azuis: os de Malcolm McDowell.
E, talvez a mais curiosa das curiosidades, foi gravado pouco ANTES do início dos protestos estudantis de 1968 em França.
Esta é uma imagem desses protestos.
Esta é uma das mais icónicas imagens de If….
Inicialmente rejeitado pelos estúdios e por grande parte do público este foi, no entanto, vencedor da Palm d’Or em Cannes, 1969, e que hoje consta em praticamente todas as listas de melhores filmes da história do Reino Unido. Gosto de como o tempo coloca cada qual no lugar que sempre mereceu. Gosto de quando um filme me apresenta não só os factos de uma era, mas também o feeling de diferentes indivíduos que nela viveram. Mesmo que sejam indivíduos way fucked up.
Em If…. toca-se em tabus como a repressão (homo)sexual, a ditadura entre miúdos, as torturas físicas e psicológicas perpetradas pelos próprios, a incompetência dos professores, a pedofilia, a incoerência do clero e o vazio perpetuado pelos adultos formatados pelo sistema. Podes até vê-lo como uma prequela do supramencionado A Clockwork Orange: acredita que o teu deleite só aumentará.
Exprime-se de forma fantasiosa e ainda assim natural. É um documentário formal e um sonho surreal. É colorido e preto no branco. É sério, violento e uma verdadeira comédia. É uma mistura de estilos que nunca parece forçada: é simplesmente apresentada como uma realidade paralela. As elações que tomas são tuas e de mais ninguém. O mínimo que podes fazer é pensar. O máximo que podes fazer é explicar… Ou dar um “metafórico” tiro em quem não quer ouvir algo diferente do que aquilo que pensa. Se contra-cultura é isto…
De que lado é que tu vais estar?
Diogo Simão