“Logan” é o décimo filme do franchise X-Men, o final da trilogia Wolverine (depois de X-Men Origins: Wolverine (2009) e The Wolverine (2013)) e, alegadamente, o último episódio com Hugh Jackman na pele de Wolverine e de Patrick Stewart na de Professor Xavier, depois de 17 anos a interpretar os referidos personagens.
“Logan” é assim, como seria de esperar, um filme de transição. Uma transição que começara já em X-Men Apocalypse com a renovação do elenco a surgir com a substituição dos X-Men “originais” por contrapartes mais novos, justificada por um salto temporal para trás uma vez que a acção decorre em 1983, 21 anos antes do primeiro X-Men, cuja trama decorre em 2004. Mas contorcionismos de enredo à parte, Jackman e Stewart eram os sobreviventes da equipa inicial e é em torno dos seus personagens que “Logan” gira.
Estamos agora em 2029 (para pessoas que costumam enjoar durante saltos temporais recomendamos vomidrine antes de prosseguirem a leitura) e os nossos heróis estão em fim de vida. Charles Xavier tem 90 anos e uma doença cerebral degenerativa que o deixa propenso a convulsões de efeitos catastróficos, episódios em que perde por completo o controlo dos seus poderes, e que, dadas as suas capacidades o colocam numa lista de armas de destruição maciça. Esse parece ser o motivo que leva o seu cuidador, Logan (o Wolverine), a tê-lo isolado numa torre de água desabada num qualquer confim desértico no Norte do México perto da fronteira com o Texas.
O próprio Logan está a morrer (os quase 190 anos já pesam) de envenenamento por adamantium e mostra sinais de envelhecimento e perda do seu poder de regeneração, efeito que tenta compensar com tomas generosas do mais comum analgésico do mundo: o etanol.
A película começa com Logan, caído neste estado sombrio e decadente, a ganhar a vida como chauffeur de limusine para conseguir comprar os medicamentos que mantém a doença de Charles, e as suas convulsões, sob controle. A ligação emocional entre os dois personagens, ambos agastados pela idade e pelas suas limitações “humanas”, os seus choques, conflitos, angústias e, não obstante, a determinação de Logan em manter o que resta da sua vida, dos X-Men e da “mutantidade” acrescenta um grau de realismo e drama que não estamos habituados a ver em filmes de super-heróis.
Está é, parece-me, a grande mais valia de “Logan”, o grande diferenciador num género marcado pela repetição do formato e do conteúdo, vezes e vezes sem conta, em que se acrescenta tão pouco de um filme para o seguinte que o espectador mais desatento poderá ser levado a crer que está a ver um remake com fatos de licra de cor diferente, ao invés de um filme diferente com personagens e história diferentes.
O enredo prossegue apresentando mais elementos desta vivência de proscritos de Logan e Xavier, até o aparecimento de uma mulher que persegue Logan para lhe suplicar ajuda para si e para a menina de onze anos que trás consigo: Laura. Logan perseguido pelos seus próprios problemas e dores recusa inicialmente prestar auxílio às duas viajantes, mas deixa-se persuadir pela avultada soma de dinheiro oferecida de que necessita para comprar um barco que possa servir de porto de abrigo e exílio seguro para si e para o seu envelhecido tutor, o objectivo maior de ambos, ao início da narrativa.
Tudo muda quando a acompanhante de Laura, Gabriela, é assassinada e Logan é visitado pelos mercenários da Alkali-Trasigen, uma companhia de biotecnologia responsável pela experimentação de mutagénicos em crianças, dos quais Laura é uma cobaia fugida. Gera-se o conflito e Logan é forçado a fugir com Laura e Xavier sob forte perseguição.
“Logan” é um filme atípico pelo lado humano dos seus super-personagens e pelo cariz dramático que dá ao enredo, não lhe faltando, no entanto, toda a acção comum a este género. Esta novidade poderá ter um efeito refrescante ou inovador para quem segue o franchise ou filmes de super-heróis em geral, não deixando de ser um filme interessante mesmo para quem vê este estilo ocasionalmente ou pela primeira vez.
Infelizmente, não é o suficiente para libertar “Logan” dos males que são comuns ao género, nomeadamente, o enredo fraco e inconsistente, a sub-exploração do mundo/lore que existe previamente ao filme e mesmo durante o filme, e que sustenta a existência do universo fantástico dos X-Men, em detrimento de sequências de acção mais ou menos insípidas e/ou inconsequentes, ainda que visualmente impressionantes, nem da bagunçada de linhas temporais do franchise X-Men que em 10 filmes já nos levou a saltos temporais para a frente e para trás, frequentemente com falhas de consistência que minam não só a credibilidade da série mas a capacidade do espectador de seguir a história dos personagens de uma forma coerente e lógica, consistente entre filmes, e que afecta indiscutivelmente a capacidade de se disfrutar do filme.
Alguns críticos afirmam que este é um dos melhores filmes de super-heróis de sempre, não desfazendo, eu penso que “Logan” é um filme que traz, tal como “Deadpool”, inovação ao género e que, por isso, se destaca positivamente dos demais, sendo um filme de qualidade razoável, que será possivelmente bem recebido por quem segue a saga X-Men e que foi desenvolvendo uma certa empatia com os personagens representados por Hugh Jackman e Patrick Stewart mas que será apenas mais um filme para os restantes. Não é uma obra prima.
Avaliação:
Nuno Soares